segunda-feira, 6 de abril de 2020

A insônia de um louco


Sempre quis conhecer o causador da ausência do fechar dos meus olhos. Claro que não desejava que a ação fosse para sempre, porém para ocorrer em cada noite.

Via sempre a dança da mesma moça no umbral da porta. Nunca vi a cara dela, mas as linhas que a traçavam, negras em ondas vibrantes. Elas eram sombras.

Sempre que o sono não vinha, a moça vinha, primeiro parando no umbral como se esperasse eu dizer “um, dois, três e ação”.

Os meus olhos ficavam dormentes, mas não caçavam a porcaria do sono. Velho que sou, precisava de mais sono e atingir o sonho.

Nunca desligava a lâmpada, pois sabia que era um suicídio. Não sei como escapei na noite que ousei desligar. Não vou deixar os detalhes aqui, eu imagino o que você imagina, na verdade me lembro muito bem como se fosse uma hora atrás.

Desejei o sono, desejei o sonho e só ganhei a dança da moça feita de linhas de sombras que depois de um mês descobri que eram assombradas.

Ela não assombrava a mim, mas sim, eu assombrava a ela, porque era o lugar dela, o leito dela, o paraíso dela.

Por muito tempo pensei que os meus olhos estivessem embriagados da monstruosidade por eles observada.

Não sei como é possível eu contar tal coisa, a todas as almas dentro da carne ainda em dia.

A dança da moça era diária até certa noite em que... hesito dizer porque não quero arrancar de ti espanto.

Acordei suando, finalmente havia dormido, havia tocado no sono e alcançado o sonho, mas pela última vez.

A dançarina das minhas noites sem sono estava comigo, deitada ao meu lado, respirando o meu suor, meu líquido viscoso, minha alma. Sim, o líquido era vermelho, embelezando a roupa da cama com detalhes do demônio.

A dançarina era... sim era uma entidade que me desejava, me consumia em cada noite e agendava um dia para me levar junto com ela.

É tão apertado aqui no caixão, perco ar, perco forças e isso é angustiante.

Antes de eu morrer ela me revelou a verdade. Ela foi enviada por alguém para adiantar o meu descanso.

Eu estava doente, precisava de algo eficiente. Já não aguentava mais as vozes que escutava, já não aguentava mais os monstros que eu via, já não aguentava mais as alucinações.

Pela última vez, vi a enfermeira, pelos caminhos conectados ao meu corpo, injetando o veneno que acabou com o meu sofrimento.

Agora descanso em paz.



Micro conto:
James Nungo
No wattpad, você o encontra com o perfil: @jamesnungo
Escreve diversos estilos, corajoso, mas o que mais gosta é escrever livros e contos sobre terror.
Bem-vindo a equipe James Nungo!



Grande abraço,
Escritor,
Adelmar Afonso

4 comentários:

  1. Muito obrigado por me desejar boas vindas. Venho com toda alegria no meu imo por saber que agora faço parte desta linda família de mestres.

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